Construinova Litoral propõe experiência de acessibilidade com inspetor do Crea
25/11/2025
(Foto: Reprodução) Engenheiro Yvis Carbinatti fala sobre Acessibilidade no Construinova Litoral
Divulgação
Desde sempre, o engenheiro Yvis Carbinatti era apaixonado por automobilismo, tanto que o sonho era ser piloto. E foi justamente num carro, que em 2008, aos 21 anos, ele viu a vida mudar, quando estava no banco de trás de um veiculo guiado por um amigo e sofreu um acidente que atingiu sua coluna vertebral, deixando-o paraplégico.
Ele reaprendeu a se locomover e transformou a experiencia pessoal em motor para transformar vidas pela vivência, reflexão e ação. O sonho de ser piloto se realizou de forma adaptada e com apoio da família e dos amigos, mais que um exemplo de superação, ele quer ajudar as pessoas a quebrarem barreiras diariamente.
Hoje com 38 anos, é engenheiro de produção, pós-graduado em gestão pública, faixa preta de jiu-jitsu, secretário dos Direitos da Pessoa com Deficiência em Rio Claro, inspetor do Crea, além de vice-presidente da Associação de Engenharia de Rio Claro. Um homem multitarefas que não se limita.
Palestra sobre Acessibilidade
No Construinova Litoral, ele trouxe a palestra Cidades Conscientes: Acessibilidade como Estratégia de Desenvolvimento Sustentável. Contou experiências, principalmente de comportamentos do dia-a-dia.
“Pensamos em carros elétricos, voadores no futuro, mas e o hoje, como pensamos na vida das pessoas com deficiência? Estive nos Estados Unidos, conheci o Brian, que também tem deficiência, e perguntei sobre o cartão de estacionamento, ele disse, aqui não tem isso. No Brasil, precisamos ter, todos os dias, eu vou trabalhar, tem diversas vagas e levo de 15 a 20 minutos para estacionar e nem sempre a pessoa que para na vaga tem deficiência”.
Yves além de trazer um pouco da vivência, trouxe uma reflexão: pensamos em mobilidade urbana ou humana? Num vídeo, ele mostra um poste em frente a uma faixa de pedestres. Mostra a visão também entre um adulto e uma criança, pelo ângulo que eles enxergam uma simples volta na rua. Uma moto em cima de uma calçada e uma lixeira em frente, são alguns dos obstáculos.
“Estes são apenas alguns exemplos de mobilidade urbana x humana. Mostramos a visão de um adulto que consegue no caso ajudar a criança com obstáculos, mas e se fosse uma pessoa idosa? Um cadeirante? Será que as pessoas pensam? Hoje, as calçadas são pensadas no carro para entrar numa residência, tem rampas, desníveis, mas a pessoa não passa na calçada. Já tive que sair pela rua, pra me locomover numa via. As cidades não estão sendo planejadas para as pessoas”.
Yves também sobre a diferença entre adaptada e acessível. “Adaptada é um remendo entre uma coisa que não deu certo. Eu mesmo trabalhei numa empresa que tinha mesas e cadeiras fixas, tinha que sair para um restaurante externo. São pequenas adaptações. Neste local, perguntei sobre cotas, falaram que tinham pessoas surdas que trabalhavam no setor de produção que não sentiam o barulho, isso não é inclusão”, conta
Engenheiro explica desafios sobre mobilidade humana e propõe reflexões
Divulgação
Cidades mais acessíveis
Por isso, fica a pergunta: como as cidades podem ser mais acessíveis? Yves responde. “Com políticas públicas, com conscientização, tornando-a acessível para todos. Se as cidades forem acessíveis para as pessoas com deficiência, ela é acessível para todos. E temos diversos tipos de deficiência: visual, intelectual, física, então as cidades precisam ter políticas públicas para atender a questão da acessibilidade e a conscientização das pessoas para saber lidar, com essa situação da pessoa com deficiência”.
Quando Yves traz à tona os desafios, ele propõe também que as pessoas mudem a cultura, a conscientização. Os exemplos na palestra, infelizmente, são um retrato da realidade, mas isso pode mudar e desde cedo. “A criança não nasce com preconceitos, elas vão crescendo, vão evoluindo, e conforme vai passando o tempo, vão criando esse preconceito. Se a gente conscientizar, colocar isso na base ali, na vida escolar, mostrar que a pessoa com deficiência tem vida, vai poder atingir o máximo de meios educacionais, esportivos, sociais, para mostrar que a pessoa com deficiência está ali”.
E como inspetor do Crea, ele também deixa um recado pratico final. “Seguir as normas, as legislações, a gente tem a norma NBR 9050, tem a lei brasileira de inclusão. É preciso seguir a risca, para fazer com que o ambiente seja acessível. Eu acredito que seguindo as normas, seguindo as regras ali tudo certinho, com certeza o ambiente será muito mais acessível, inclusivo, agradável de se trabalhar, de se viver, de estar ali naquele ambiente”.
Experiência de acessibilidade
Construinova Litoral oferece experiência de acessibilidade em cadeira de rodas aos visitantes
Divulgação
E dentro do evento, as pessoas puderam ter esta vivência de tudo que o Yvis contou. Duas cadeiras de rodas estavam disponíveis para quem quisesse entender um pouco mais deste prisma. O estudante Pedro Rodrigues de Almeida, de 18 anos, fez questão de ver como são estes desafios. Durante cinco minutos, ele usou uma das cadeiras. Entre dificuldades e acertos, relatou a experiência. “É muito difícil, dá um cansaço para manobrar. Daí fiquei pensando, aqui é um piso plano, e na rua? Em ruas com desníveis, sem rampas. Precisamos pensar nisso, os locais não podem ser muito inclinados e tem que ser acessíveis”.
O relato de quem apenas vivenciou vai de encontro com as necessidades de quem tem na rotina estes desafios, e fica a esperança de cidades mais acessíveis para todos e pensadas sem preconceitos para um futuro não só adaptado, mas mais humano.
Estudante Pedro Rodrigues de Almeida, de 18 anos, teve a experiência de acessibilidade
Rafaella Ferreira