'Contador do tráfico' que movimentou R$ 19 milhões para Buzeira tem prisão domiciliar negada pela Justiça
19/10/2025
(Foto: Reprodução) Empresário Rodrigo Morgado é preso pela Polícia Federal em Santos
Rodrigo Morgado, o empresário preso pela Polícia Federal (PF) após ser apontado como contador do tráfico de um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao tráfico internacional de drogas, teve o pedido de prisão domiciliar negado pela Justiça. Cabe recurso da decisão da 5ª Vara Federal de Santos, no litoral de São Paulo.
Morgado foi preso na terça-feira (14), no bairro Ponta da Praia, em Santos. A corporação encontrou repasses de R$ 19 milhões do contador para a empresa do influenciador Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido como Buzeira, que também foi detido na mesma operação da PF.
O advogado Felipe Pires de Campos, responsável pela defesa do contador, explicou não poder dar detalhes sobre a decisão desta sexta-feira (17) porque o processo está sob sigilo, mas afirmou acreditar que a solicitação foi negada "por ora". "A defesa reafirma que Rodrigo Morgado sempre atuou de forma lícita e que confia plenamente na Justiça e no esclarecimento dos fatos", destacou ele.
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A Operação Narco Bet foi deflagrada após investigações apontarem que o dinheiro do esquema de lavagem de dinheiro ligado ao tráfico internacional de drogas pode ter sido direcionado para o setor de apostas eletrônicas, as chamadas bets. A ação é um desdobramento da Operação Narco Vela, que aconteceu em abril deste ano e também culminou na prisão de Morgado por porte ilegal de arma.
Rodrigo Morgado foi preso pela Polícia Federal em Santos (SP)
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De acordo com o documento, obtido pela equipe de reportagem, a defesa entrou com um pedido para a revogação da prisão preventiva do acusado e substituição para a detenção domiciliar ou medidas cautelares — não especificadas.
O advogado elaborou o requerimento citando que Morgado precisa auxiliar a esposa nos cuidados com os filhos, de 10 meses e dois anos, além da enteada. Ele destacou que uma das crianças se encontra em tratamento médico.
Pedido negado
O Ministério Público Federal (MPF) se manifestou contra a solicitação e o juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara Federal de Santos, indeferiu o pedido de revogação da detenção preventiva e a concessão da prisão domiciliar.
Na decisão, o magistrado citou o artigo 318, inciso VI, do Código de Processo Penal, que determina a substituição da prisão preventiva pela domiciliar se o homem for o único responsável pelos cuidados dos filhos de até 12 anos. Não é o caso de Morgado porque os menores estão com a mãe.
Rodrigo Morgado é casado e tem dois filhos
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O juiz também ressaltou a existência de indícios suficientes para a configuração do crime de lavagem de dinheiro, destacando que as provas colhidas pela PF demonstram que o contador e demais investigados da operação movimentaram valores que "superam o orçamento anual de muitos municípios brasileiros".
"Diante do modus operandi do investigado, mantê-lo em liberdade provisória ou prisão domiciliar não enseja a cessação da conduta criminosa, de modo que não é medida suficiente para garantia da ordem pública", afirmou o juiz. "Resulta demonstrada a necessidade de segregação cautelar, a fim de que as investigações ocorram sem intercorrências", acrescentou Roberto Lemos dos Santos Filho.
Acusações
A decisão da Justiça Federal, que decretou a prisão de Morgado, traz elementos do inquérito da PF que apontam Rodrigo Morgado como operador logístico-financeiro de um amplo esquema de movimentação e lavagem de capitais do tráfico internacional de drogas.
A corporação diz que ele “estruturou e coordenou transações milionárias destinadas ao setor de apostas on-line”, utilizando uma rede de empresas de fachada para mascarar a origem ilícita dos recursos.
Segundo as investigações, o esquema funcionava da seguinte forma:
Rodrigo Morgado atuava como procurador e representante legal de diversas empresas utilizadas no esquema;
O contador centralizava o controle operacional e a logística financeira das transações;
Sua posição de comando permitia que ele movimentasse valores oriundos de fontes ilícitas, inclusive relacionadas a tráfico internacional de drogas, por meio de criptoativos, bets e paraísos fiscais;
Morgado também é apresentado como um "banco particular" de outros investigados do esquema, como Buzeira. A PF encontrou repasses de R$ 19 milhões de Morgado para a empresa do influencer, por exemplo.
Buzeira (à esq.) e Rodrigo Morgado (à dir.) foram presos durante Operação Narco Bet, da PF
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A investigação ainda aponta que Morgado transferiu R$ 6,5 milhões para a empresa Integration Empreendimentos Imobiliários Ltda., destinados à compra de uma mansão para Buzeira. O celular apreendido de Morgado na Operação Narco Vela revelou recibos e conversas que confirmam essas movimentações.
Além disso, a polícia diz que Morgado elaborou uma nota fiscal de R$ 50 milhões emitida pela Buzeira Digital contra a empresa estrangeira SUPERBET88 INTERNATIONAL N.V., criando holdings e contratos de “sócio oculto” para ocultar os beneficiários.
Os investigadores também creditam ao empresário a atuação na viabilização de compra, através de empresas fantasmas e em nome de laranjas, de um veleiro interceptado entre o arquipélago de Cabo Verde, na África, e as Ilhas Canárias, na Espanha, quando transportava aproximadamente 3 toneladas de cocaína.
“Em síntese, há uma possível participação [dele] em esquema de lavagem de capitais, implementado por meio de empresas de fachada, casas de apostas e holdings familiares, além de apontar vínculos diretos com a prática de fraudes eletrônicas em larga escala e com o tráfico internacional de drogas, notadamente em associação com integrantes de organizações criminosas já identificadas em outros procedimentos”, concluíram os investigadores federais.
Quem é Morgado
Morgado é casado com uma advogada com quem tem dois filhos e uma enteada. Ele usava as redes sociais para compartilhar momentos da vida pessoal com a família, mas desde que foi preso em abril, arquivou algumas das publicações.
Rodrigo Morgado ostentava uma vida de luxo nas redes sociais
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O g1 apurou que ele é formado em Ciências Contábeis e se especializou em Negócios e Finanças em Londres. Há seis anos, Morgado possui a Quadri Contabilidade, que tem sede em Santos e atua nas áreas contábil, tributária, trabalhista, além de prestar consultoria de gestão financeira a empresas.
Ele ganhou notoriedade após sortear um carro em uma festa de fim de ano da empresa e tomar o veículo da funcionária sorteada, alegando que ela não havia cumprido o regulamento. De acordo com ele, a mulher acabou demitida por comportamento inadequado. Ambos entraram em acordo.
Nas redes sociais, Morgado conta com mais de 43 mil seguidores e chegou a compartilhar o início da trajetória. Em uma série de stories antes fixados no perfil, ele citou que era chamado de “louco e sonhador”.
Morgado também posou ao lado do jogador de futebol Neymar Jr. nas redes sociais, afirmando que esteve na casa do atleta e celebrando a amizade entre eles. Ele, inclusive, se apresentou como um dos investidores do Atlético Monte Azul, clube do interior paulista, que tem entre os gestores Neymar pai.
O contador já ostentou imagens de diversas viagens internacionais para países como Maldivas, Croácia, Chile, Turquia, Grécia, Suíça, Inglaterra e Portugal.
Rodrigo Morgado compartilhou viagens internacionais em diferentes países
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